REVIEW | Torne-se o poderoso Odin em Assassin’s Creed Valhalla: Dawn of Ragnarök

Explorar as mitologias é algo que a Ubisoft faz desde Assassin’s Creed Origins, quando era possível visitar os mundos dos deuses e até batalhar entidades místicas. Encaixar essa narrativa fantástica tornou-se algo trivial, uma vez que era possível relacionar as aventuras mitológicas do protagonista com simulações criadas pelos Isus (seres altamente avançados que teriam criado os humanos e os Pieces of Eden, como a Apple).
Dessa forma, visitar os reinos místicos de Asgard e Jotumheim em Assassin’s Creed Valhalla era algo tão natural quanto usar uma hidden blade. Afinal de contas, a mitologia nórdica é tão rica que não se poderia perder a chance de explorá-la. Porém, as visitas de Eivor a esses mundos não tinham muitas diferenças quando comparadas com sua aventura na campanha principal do game.

Eis que Dawn of Ragnarök surge como a expansão mais ambiciosa da série disposta a colocar Eivor mais uma vez na pele do deus nórdico maior, Odin, em um novo reino, com novos poderes e com inimigos assustadores. Prepare-se para conhecer Svartalfheim, o mundo dos Anões e enfrentar o poderoso Deus de Muspelheim, Surtur.
Uma cópia digital de Dawn of Ragnarök para PS5 me foi cedida para análise pela Ubisoft Brasil e, depois de passar várias horas explorando a terra dos anões e brincando com poderes de fogo e gelo, trago uma review completa desse DLC recheado de conteúdo que traz a experiência de jogabilidade definitiva (e tomara que seja a última) de Assassin’s Creed Valhalla.
Uma nova (e cara) aventura mitológica
Antes de falar sobre o conteúdo do DLC em si, precisamos comentar sobre o “elefante na sala” no que diz respeito a forma como esse conteúdo adicional é comercializado. Por ese tratar de um DLC, se esperava que Dawn of Ragnarök fosse disponibilizado junto do Passe de Temporada de AC Valhalla. Porém, além de o DLC não estar disponível no pacote, ele é comercializado por R$200,00 — praticamente o valor de um jogo de lançamento.

Não bastasse o valor abusivo, Dawn of Ragnarök ainda é uma expansão, portanto não é possível jogá-lo sem ter o jogo base. O única boa notícia nessa péssima estratégia de vendas é que os jogadores podem escolher jogar o conteúdo do DLC diretamente, sem ser necessário ter jogado a campanha principal de AC Valhalla. Infelizmente percebe-se que a ambição da Ubisoft não está apenas no escopo desse DLC, mas também em seu ganho comercial inescrupuloso.
Dito isso, qual é a trama por trás de Dawn of Ragnarök? Como o próprio nome sugere, o DLC mergulha nos eventos mitológicos que podem disparar o começo do Ragnarök (o apocalipse das crenças nórdicas). Surtur, o rei dos gigantes de fogo de Muspelheim invadiu o reino dos anões, Svartalfheim e ainda sequestrou o filho de Odin, Baldur. Agora o deus nórdico precisa encontrar uma forma de resgatar seu filho e também salvar a terra dos anões.

Por mais surreal que essa história mitológica possa ser, ela não passa de um sonho delirante que o protagonista de AC Valhalla, Eivor, está tentando compreender e cabe ao jogador ajudá-lo a desvendar os segredos de Svartalfheim e descobrir o que Surtur deseja fazer com o filho de Odin.
Seguindo os passos de Odin
Além de explorar um reino novo da mitologia nórdica, Dawn of Ragnarök traz muito mais conteúdo para os jogadores mergulharem de cabeça. Svartalfheim é o maior mapa já disponibilizado em um conteúdo adicional da série e somente a história principal da campanha do DLC irá render mais de 20 horas de jogatina (podendo chegar até quase 40 horas com as missões secundárias)!

E não é apenas um novo mundo com visuais de cair o queixo que está aguardando os jogadores em Dawn of Ragnarök. Além de árvores de habilidades extras que podem ser desbloqueadas a medida que você ganha experiência e sobe de nível, cinco poderes únicos estão disponíveis para que Odin utilize em Svartalfheim:
- Poder do Corvo: ele permite que Odin se transforme em um corvo e, enquanto estiver ativo, o deus nórdico pode voar grandes distâncias e atacar inimigos furtivamente através do assassinato aéreo. Além disso, você pode utilizar a nova habilidade para substituir seu corvo e investigar qualquer região do mapa
- Poder de Muspelheim: a pele de Odin vira lava vivo ao se transformar em um de seus inimigos, os Muspelitas. Utilizando esse poder é possível andar sobre o magma sem sofrer danos, além de caminhar no meio dos Muspelitas sem ser detectado.
- Poder do Inverno: essa habilidade permite que a arma de Odin tenha dano de gelo e desfira golpes mortais, que tem seu poder de devastação dobrado quando se está enfrentando um Muspelita.
- Poder de Jotunheim: se você já jogou Shadow of Mordor ou Shadow of War, vai se familiarizar rápido com essa habilidade. Com esse poder você pode mirar em um inimigo e, enquanto estiver com a flecha preparada para o ataque, se teletransportar até sua localização e assassiná-lo. Além disso, se você encontrar pontos chamados de “Nós Globais” é possível usar o poder para se locomover rapidamente em áreas maiores.
- Poder do Renascimento: com essa habilidade você adquire os poderes de um necromante, pois Odin torna-se capaz de reviver os inimigos derrotados para que lutem ao seu lado. É um dos poderes mais úteis do DLC, uma vez que torna as invasões a campos de combate e vilarejos sitiados muito mais fácil quando você pode ter um exército de Muspelitas ou Gigantes ao seu lado.

Nem tudo que brilha em Svartalfheim é ouro
Caso você não ache que enfrentar Surtur, seu exército de soldados infernais e até os gigantes de gelo não é desafiador o suficiente para nosso humilde deus Odin, Dawn of Ragnarök oferece algo mais “apimentado”. Estamos falando dos Desafios das Valquírias. Não, não se preocupe pois não será no nível das lutas com as Valquírias em God of War, mas não deixa de ser uma opção interessante para quem gosta de testar suas habilidades.

Nesses desafios, o jogador enfrenta diversas ondas de inimigos em um combate dentro de arenas. O mais interessante é que todos esses desafios são contados como se fossem vitórias passadas de Odin, então não se surpreenda se encontrar antigos inimigos derrotados novamente aparecendo na arena para te desafiar.
Mas não pense que os Desafios das Valquírias são apenas pancadaria rolando solta nas arenas de Svartalfheim. Aqui você pode selecionar até 14 modificadores especiais que tornam as lutas muito mais interessantes (e difíceis também). Além disso, quanto mais modificadores você escolher, maiores serão as recompensas por vencer os combates.

Porém, o grande problema de Dawn of Ragnarök é que o DLC não traz nenhuma novidade significativa para AC Valhalla: apenas torna um game já estufado com conteúdo extra, ainda mais “inchado”. Mesmo os poderes de Odin não são mecânicas essenciais para prosseguir na jornada do deus nórdico. Certamente vão facilitar o combate, mas é possível terminar as quase 20 horas do conteúdo principal do DLC somente usando um ou dois dos poderes apenas algumas vezes.
Além disso, a viagem “psicodélica” de Eivor pelo reino dos anões na pele de Odin pouco acrescenta para a história de seu personagem. E, mesmo que trouxesse algum elemento extra para sua trajetória pessoal, será que isso teria alguma importância? Não é como se Eivor fosse uma personagem que irá persistir em mais títulos da série, como foi o caso de Ezio (que foi o personagem principal de três títulos da franquia), então não seria mais pertinente tentar investir em alguma trama que tivesse alguma conexão com a parte “moderna” da história.
O Ragnarök está finalmente entre nós?
Mesmo com a possibilidade de poder escolher entre uma versão masculina de Havi (Odin) assim como o jogador podia fazer na campanha principal de AC Valhalla, não espere que isso melhore a atuação do protagonista ou a forma como ele irá se envolver com outros personagens em Dawn of Ragnarök.
A Ubisoft continua insistindo em missões demasiada longas, com mecânicas repetitivas e com um excesso de diálogo que não é capaz nem de despertar o interesse, curiosidade ou mesmo empatia do jogador pelos personagens envolvidos. Ao final da campanha de Dawn of Ragnarök não se surpreenda se você ficar com um certo amargo na boca (até mesmo a cara constantemente emburrada de Odin parece refletir sua insatisfação com o DLC).
Mesmo aperfeiçoando todas as mecânicas de jogabilidade lançadas por AC Valhalla, Dawn of Ragnarök traz poucas novidades para compensar o preço salgado da DLC. Certamente o conteúdo adicional traz dezenas de horas de gameplay e exploração, mas a sensação que fica no jogador é que ele está apenas jogando AC Valhalla, mas com uma “skin” diferente.
Essa é a primeira vez que a Ubisoft mantém a disponibilização de conteúdos extras para um jogo da série ao longo de dois anos e ainda existem planos da empresa de continuar oferecendo eventos e itens extras de forma gratuita para o jogo base por um tempo. Porém, se existe uma coisa que esse DLC serviu para mostrar é que o Ragnarök já chegou há muito tempo para Eivor e suas aventuras, o problema é que ele (e a Ubisoft) insistem em negar isso.

Opinião Final: OK
Por Luís Antônio Costa