REVIEW | Hazel Sky te convida a uma bela jornada

Se destacar na vida e, conforme a expressão, “se tornar alguém” não é algo fácil. Todos buscamos um lugar ao sol e, para muitos, isso significa uma longa jornada repleta de desafios, alegrias e tristezas. Isso não é diferente para Shane Casey, um jovem aspirante a engenheiro da cidade flutuante de Gideon que precisa passar por um “rito de passagem” para provar suas aptidões.
Em Hazel Sky, criação do estúdio brasileiro independente Coffee Addict Studio, o jogador assume o papel de Shane e precisa ajudar o jovem a resolver uma série de puzzles e enigmas para sobreviver em uma ilha abandonada e atingir seu sonho de se tornar um engenheiro.
Uma cópia digital de Hazel Sky para Xbox me foi cedida para análise pela e, depois de passar várias horas andando ao lado de Shane por uma ilha repleta de detalhes e vivendo suas alegrias e angústias, trago uma review completa dessa criação mais recente no cenário dos games independentes brasileiros.
Rito de passagem inusitado
A primeira característica marcante que você irá notar ao jogar Hazel Sky são seus gráficos. Misturando um estilo realista com um ar quase de “desenho animado”, os visuais do jogo impressionam com a sua delicadeza na criação dos ambientes e no movimentação do personagem. Além disso, o efeito das luzes é impressionante, capaz de criar um jogo de sombras que torna a jornada do jovem Shane mais realista e mais interessante de ser explorada.

Ao ser levado até um conjunto de três ilhas inóspitas, Shane precisa cumprir três desafios que envolvem ele pôr em prática suas habilidades de futuro engenheiro e montar um pequeno avião capaz de cruzar por essas três ilhas. Enquanto ele tenta (e falha algumas vezes) em cumprir seus objetivos, Shane encontra um walkie-talkie que lhe permite comunicar-se com Erin, uma jovem que está passando pelos mesmos desafios de Shane em outra parte da ilha.
Porém a diferença de Erin para Shane não está apenas no local onde eles precisam cumprir seus desafios, mas em suas convicções pessoais: Erin tem sérias dúvidas sobre todo esse “rito de passagem”. Apesar disso, a relação que essas duas personagens irão desenvolver ao longo da história será de suma importância para compreender Shane, seus objetivos e o mundo onde ele vive de forma mais clara.
Uma vez que o rito deve ser cumprido ao se utilizar ilhas de famílias específicas, Shane encontra diversas anotações escritas por seus antepassados que revelam mais sobre seus pensamentos e sentimentos. De forma similar, diversos livros encontrados na ilha explicam mais sobre a cidade de Gideon, os engenheiros e a forma como a sociedade é construída. Mesmo sem uma linha narrativa bem definida, esses elementos contribuem de forma satisfatória para contextualizar o cenário de Hazel Sky e suas personagens.
Juntando os cacos
Além da exploração das ilhas, conforme eu já havia mencionado, a outra principal mecânica de jogabilidade de Hazel Sky gira em torno dos aparelhos e máquinas que Shane precisa consertar. Enquanto que, na primeira ilha você localiza algumas instruções e o processo de reparação é simples como pegar carvão, pano e grampos para consertar um avião simples, as tarefas vão ficando mais complexas conforme o jogo progride. E é aí que a mecânica de exploração das ilhas realmente dá as caras!

Além de vasculhar cada canto das ilhas em busca das peças e equipamentos que você precisa, também será necessário ficar atento pois alguns itens precisaram ser carregados ou deslocados segurando um botão, então não será tão simples quanto simplesmente pegar um item e colocá-lo no inventário para usar quando quiser.
Mas as ilhas não estão repletas de apenas peças para construção de máquinas. O jogador também irá descobrir que os ambientes de Hazel Sky escondem muitos segredos e colecionáveis que valem a pena ser buscados para enriquecer a compreensão desse mundo fantasioso e se aproximar cada vez mais da personagem de Shane.
Talvez os únicos colecionáveis que podem dar mais trabalhos são as chaves necessárias para abrir cofres e baús escondidos. Além de não serem fáceis de obter, muitas vezes elas precisam ser combinadas e nem sempre fica claro em qual fechadura você precisa usar uma chave específica. Apesar disso, eu altamente recomendo que você sempre tente utilizar uma chave quando encontrá-la, pois não irá se arrepender da recompensa.
Os ares e sons das ilhas
Desde o começo da aventura de Shane fica claro que os controles não são do típico molde encontrado em outros games do gênero exploração-aventura, mas mesmo assim eles conseguem ser confiáveis e intuitivos. Leva um certo para se acostumar com a forma que Shane precisa pular e segurar, mas em questão de alguns minutos o jogador já estará craque em cruzar qualquer obstáculo.

O que talvez incomode um pouco o jogador é que as ilhas de Hazel Sky não são pequenas e, infelizmente Shane não é exatamente um corredor habilidoso. Além disso, não existe um botão ou ação dedicada para aumentar o passo de nosso personagem, então você terá que se contentar com o ritmo normal de Shane. Imagino que talvez essa decisão tenha sido tomada pelos desenvolvedores para que os jogadores pudessem tomar seu tempo e apreciar mais os ambientes que estavam explorando.
Por ser um game produzido por um estúdio brasileiro, Hazel Sky possui uma dublagem completa em português e definitivamente essa deve ser a escolha do jogador ao começar o game. A dublagem em inglês é péssima e consegue arruinar todo o clima de fantasia, mistério e exploração que o game tenta construir nas suas poucas horas de gameplay.

E por falar em sons, outro grande destaque do game fica por conta de sua trilha sonora. Além das músicas suaves (e ao mesmo tempo empolgantes) que você ouvirá enquanto estiver na sua jornada de explorador, você também pode tocar sua própria música. Seguindo um estilo similar à mecânica de tocar violões em The Last of Us: Parte 2, existem diversos violões espalhados pelas ilhas e Shane pode tocá-los à vontade ou seguir as instruções de partituras que permitem ao nosso personagem ir melhorando seu talento musical a cada canção dedilhada.
Uma curta, mas boa história

Talvez o aspecto mais decepcionante de Hazel Sky é o quão cedo o game termina. Um jogador (mesmo aqueles inexperientes com jogos no estilo exploração-puzzle) é capaz de finalizar a jornada de Shane em poucas horas. Pelo menos os visuais são tão belos e a história tão cativante que você não irá se surpreender se quiser jogar mais algumas vezes para encontrar algum detalhe que lhe havia passado despercebido.
Opinião Final: OK

Por Luís Antônio Costa