OPINIÃO | Quem se importa com os professores?

“O professor é o elo que sela a relação do ensino e estabelece uma troca de conhecimentos entre o aluno, em que ambas as partes se beneficiam”, dizia Jean Piaget, famoso intelectual suíço considerado por muitos um dos pais da Educação Moderna. Esse era seu pensamento quando queria demonstrar o papel do professor no desenvolvimento do ensino. Porém, dada a situação atual do ensino brasileiro, parece que as ideias de Piaget estão cada vez mais sendo esquecidas por entre as estantes das bibliotecas.
Se adentrarmos uma sala de aula brasileira, independente da série ou da origem do estabelecimento de ensino (público ou privado) e perguntarmos aos seus estudantes qual será sua futura profissão, se um dentre tantos alunos apontar a carreira de professor como uma escolha definitiva, será uma surpresa. E, infelizmente, as estatísticas e a realidade comprovam esse cenário. Nunca a profissão de professor esteve tão pouco valorizada no país.
É crescente o número de casos de violência contra o professor por parte dos estudantes nas mais diversas regiões do Brasil. Desrespeito, falta de atenção e uma base de valores morais cada vez mais carente e desestruturada parecem dominar a sala de aula e minar a autoridade do professor. Dessa forma, o educador involuntariamente passa a adquirir a responsabilidade das famílias (que se tornam mais ausentes) como “construtor” dos valores éticos e morais das crianças e jovens. Tarefa que nem sempre (ou quase nunca) é bem-sucedida.
Esse fator crucial, somado a outros como salários baixos, qualificação defasada e falta de estímulo e motivação profissionais, perpetuam no cenário brasileiro a visão da licenciatura como uma profissão non-grata. E os números e pesquisas demonstram claramente essa situação. Entrevistas realizadas com jovens do terceiro ano do Ensino Médio pela Fundação Carlos Chagas em 2010 revelam que menos da metade dos estudantes deseja ser professor. Mesmo quase 10 anos depois, as estatísticas ainda continuam contra a Educação. E análises dos mais recentes concursos de vestibular da UFRGS evidenciam uma redução significativa no número de inscritos em cursos de licenciatura. Durante os últimos seis anos, somente o curso de Licenciatura em Matemática sofreu uma redução de 20% de inscritos.
Mudanças sociais e estruturais definitivas são necessárias no país. A vocação de professor urge por estímulos maiores, um sistema de formação qualificado e uma estruturação professional de qualidade. Complementando Piaget, o professor não é apenas o “elo que sela a relação fundamental do ensino”, mas a ferramente primordial do conhecimento e da construção da sociedade. É preciso admitir que já se foi o tempo em que presentear o professor com uma maçã bastava para fazê-lo sorrir.